sexta-feira, 20 de julho de 2012

GRANDES

E se dentro de nós houvesse uma linha, bem no centro, que divide direito e esquerdo, ou coração venoso e arterial. Ela serviria para medirmos na parede o desenvolvimento da nossa alma, do nosso espírito, e da nossa mente esparramada por todas as partes do corpo. Na parede do banheiro, haveriam duas colunas de risquinhos de lápis: altura de fora, altura de dentro. 
A segunda coluna nunca iria parar de crescer, e talvez nós tivessemos que quebrar todos os tetos de um prédio na parte do banheiro, e consequentemente alguns chãos, para ter espaço para a linha da altura de dentro. Imagine, que divertido seria todos do prédio usando o banheiro ao mesmo tempo, e se medindo na parede, falando alto, e tampando o nariz. Rindo, rindo muito, sem vergonhas, e as mulheres de TOP LESS correndo para todos os lados, e tropeçando nas centenas de privadas espalhadas pelo chão, caindo encima do velhinho lendo o jornal. E o o banheiro nem ia precisar ser tão grande assim. Digo, de largura. Aí, como sempre haveria gente, bastante gente lá dentro, simultaneamente ou sucessivamente, a almofada de alguns vasos sempre estariam aquecidas, criando um clima de companheirismo, onde as pessoas tentavam usar as mesmas privadas para não gelar o bumbum dos próximos. E seria bem bonito, sem tabus, onde pênis seriam pênis, e não minhocas gigantes peludas medonhas que engolem virgens durante a noite, e vaginas, vaginas. 
Todos estariam acostumados a se sentir livres para se libertar. Com uma vaquinha, comprariam uma banheira, e talvez até com hidromassagem, e então se ouviriam muitos gemidos, e gritos divertidos, o que não seriam um problema para os vizinhos. E aí, seria a céu aberto! E quando chovesse, sempre, seria como um ritual, onde diriam que 'hoje Deus nos abençoa com a urina benta, e salvaremos energia do chuveiro para os dias de defecação!', e todos gargalhavam. Gargalhar seria como limpar o bumbum. ERA NECESSÁRIO PARA O BEM ESTAR DE TODOS. Sem se acostumar com tal coisa, surpreendentemente, todos não estavam preocupados tampouco em encontrar sentido em tudo aquilo. 
Era estranho tanta normalidade, e normal tanta estranheza. Mas era bom, e todos tinham suas intimidades tão a mostra, que chegavam a ser ultra secretas, silenciosas, ocultas, misteriosas. Respeito e peito era com certeza o que mais se via. E seriamos chamados de gozadores, com orgulho. Agora o melhor de tudo mesmo, seria que a segunda coluna na parede, a da altura de dentro, era muuuuuito mais alta que a outra, e aí se a gente fizesse tudo junto, todas as colunas, uma do lado da outra, e dessemos uma arredondada em tudo bem caprichada para ficar retinho, poderia se ver algo mais ou menos assim:

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E isso quer dizer que:
Nos sentiríamos diferenciadamente iguais e igualmente diferente;
Por um lado, não cresceríamos nunca, e por outro, para sempre;
Nos rodearíamos de pequenos gigantes;
Nossas linhas da alturas, se ligadas por uma coluna, poderiam formam um graaaande e significativo precipício, para se partir, e partir-se sempre que quisessemos;
Nada seria intimo o suficiente para intimidar;
E nossas vozes soariam como bolhas de sabão recheadas de carne com molho, e as vezes, ATÉ SEM MOLHO, quando todo o tomate e folhas de louro vão escorregando e vai junto na descarga. E quando isso acontece, entope uma. Depois duas, depois três, e depois da terceira, o fedor começa a feder, e a água transborda, fazendo transbordarem as gargalhadas, que depois da sexta privada, se reduzem a risinhos sem graça, sem amor nem amassos, laços, traços, palhaços, ou vontade de ficar a vontade. Se perde o misticismo, e surge o ceticismo, e assim, sem nada para entender, se vêem mulheres peladas, entrelaçadas em sí mesmas, agachadas, desencantadas no chão encharcado e gélido, sutil, intenso, com tremedeiras e só almofadas frias, como se nem fossem almofadas.