segunda-feira, 28 de março de 2011

com olhos de criança (CRÔNICA)

Mais do que sorridente, cabelo crespo, pele escura, sentado no chão de penas cruzadas, enfeitando mais uma das monótonas noites de São Paulo, conversando com seu amigo imaginário, que por sinal parecia ser muito hilário, barbudo, de boné, com uma camiseta do Nirvana. O velho simpático mendigo, ria sozinho, como se estivesse num luau com os melhores amigos de infância, e acabasse de contar a piada mais sem graça, e ter como resposta as mais sinceras gargalhadas chapadas. Simpatizei com seu riso, imediatamente. Simpatizei com aquele senhor, que concerteza teria muitas histórias para me contar. Queria poder estar junto a ele, em volta daquela fogueira queimando na areia de uma praia qualquer, em mais uma madrugada de verão, para naquele momento, poder estar ao seu lado, relembrando dos tempos de moleque e dando risada dos velhos tempos, das velhas noites, dos velhos amigos, dos velhos amores e dizendo que nós estaríamos juntos para sempre. Queria poder apagar a o dor ofuscada por aquele largo sorriso, e fazer com que nada daquilo precisasse de muitas doses de bebida. Aquele olhar profundo, que nunca vou esquecer.
Sei que parece algo insignificante, mas de alguma forma, pude sentir-me próxima daquele homem e meu coração apertou, mais do que forte, ao perdê-lo de vista. Nunca troquei uma palavra com ele, nunca dei-lhe nada, nunca dei-lhe um abraço, nunca enxuguei suas lágrimas, nunca chorei ao seu lado, nunca cantei junto a ele, nunca conheci aquele senhor. Mas de alguma forma, sua imagem me deixa nostálgica, nostálgica e estranhamente com dor no coração de pensar que nunca mais o verei, e nunca, jamais recordaremos nossos bons momentos. Talvez seja preconceito pensar desta forma, mas pude enxergar a solidão nos olhos dele, pequenos e profundos olhos, que imploravam carinho. E então, com o coração transbordando lágrimas, não lhe dei carinho, mas sim uma cronica, que sei, infelizmente, nunca valerá uma amizade.

sexta-feira, 25 de março de 2011

futuramente passado (CRÔNICA)


Era esta a cor da minha manhã, hoje. Talvez porque esta é a cor da casa que fica na frente da minha, ou talvez porque esta é a cor da parede do meu quintal, ou talvez porque eu simplesmente quisesse que essa fosse a cor da minha manhã, ou talvez, porque essa era a cor das minhas bochechas enquanto tomava meu banho de sol diário, sentada na janela do meu quarto. Hoje acordei cedo. Meu cabelo monstruoso, meus olhos inchados, meu pijama velho, meus braços doendo e minha janela fechada. Minha janela aberta. AAH, QUE LINDO ESTAVA O DIA! O sol imediatamente invadiu meu canto. Meu cabelo, meus olhos, meu pijama, meu braços, minha janela, e meu sorriso. Me livrei da parede invisível que me separava do doce mundo que me esperava. Sentei na janela, e fiquei, uma perna para fora, e uma para dentro, cabelos felizes, que riam comigo enquanto eu observava as pessoas pela minha rua, calma, onde conversavam nos portões, passeavam com seus cachorros, respiravam o ar das árvores que verdeavam um pedaço de tranquilidade que ainda recorda os dias de antigamente. Via as folhas balançando, o som do silêncio, e sentia aquele momento reinar sobre mim. Então, comecei a ouvir um barulho estranho, de pedras rolando, ou quebrando, destruição. Era uma daquelas maquinas de destruir a felicidade e paz das pessoas, aquelas que detroem e controem prédios, aquelas, sabe? Fiquei lá poucos minutos, mas minha mente está até agora. Fiquei pensando: ' Como pode? '. Destruir uma das poucas coisas boas que ainda tenho depois da minha janela. Cinco prédio estão sendo construídos nas redondezas do meu. No lugar das árvores, agora terão carros, e no lugar dos fuscas, agora terão carros de luxo, e não quero nem pensar nas casinhas de portão baixo. Me diz, o que mais o homem vai destruir além do rosa das nossas manhãs?

quarta-feira, 23 de março de 2011

inocência (CRÔNICA)

Foi em 19/03/11 '... e então concluo que este é o tempo de reaçao humano.' Finalmente. As ultimas palavras do interminável relatório de ciências. Minha cabeça girava, mas a felicidade que eu senti em poder desligar aquele lap top que já fazia meus olhos arderem e meus dedos dormirem que tanto trabalhar naquilo, era insana. Sábado, eu viajava com meu pai e meu irmão. Muito verde, serras lindas, uma represa gigantesca, piscina, quadra de vôlei de areia, vastos campos de grama, era tudo o que eu precisava para me desconcentrar daquele relatório infeliz. Mas por milagre, eu terminei. Fechei o lap, desliguei da tomada, peguei minhas canetas, juntei as folhas em ordem, coloquei meu caderno encima do livro, e em cima do caderno coloquei o trabalho, encima do trabalho a máquina, e encima da máquina, as canetas, e encima das canetas a chave do quarto, que finalmente era segurada pelos meus antebraços apoiados, enquanto minha mão segurava a pilha toda por baixo. Subi o lob do hotel, passei o Hall, 20m reto, 15m para á direita, tirei a chave da pilha, e entrei no quarto. 5 minutos depois, saia com o meu biquíni laranja, como um foguete em direcção ao mesmo lugar de onde vim, mas passei o lob, desci uns 30 degraus largos de pedra, toda aflita por medo de pisar em algum sapo, passei as 3 piscinas, desci mais 2o degraus, passei a sauna, virei à esquerda, passei o jardineiro que colocava mais lenha na portinha de metal, desci mais 50 degraus e cheguei na mesinha de ferro onde encontrei as roupas do meu irmão e do meu pai nas cadeiras, pus meu óculos de natação e corri para o piêr. Passei um minuto mais ou menos procurando qualquer sinal japonês pela área. Até que ouvi a voz do meu irmão me chamando. Pulei na represa. E de lá, uma pequena luz surgia por trás da serra. Era a mãe universo, dando a luz da lua pela incontável vez. Branca, imensa, deslumbrantemente encantadora, que vinha descobrir esse admirável mundo estranho que era tão particular de suas irmãs. Refletindo na água e fazendo claras as bolhas que os peixes faziam ao saltar. Redondamente perfeita, e aí sim entendi por que os índios acreditam que a natureza é Deus. Como se estivesse perdendo a vergonha aos poucos, ela surgia, subia devagarinho, luminosa e radiante, e quanto mais próxima de nós ela ficava, mais se via seu sorriso, que acabou nos envolvendo, até que tão íntima, que agora era nossa companheira, e iria observar junto a nós a pesca dos ribeirinhos na outra margem. E ela se aproximava cada vez mais, e virou tão pessoal, que até suas crateras podíamos ver, como os furinhos dos queijos. Até que ela chegou a seu auge, e foi se despedindo lentamente, subindo, subindo, subindo, até ser completamente coberta pelas nuvens negras, que as sugavam como um buraco negro, e enfim, brilhar sua última luz, pela mínima fresta deixada por entre as maudosas. _______________________________________ MANCHETE NOS JORNAIS 19/03/11 'Hoje, 19 de Março, é dia de lua cheia. Basta olhar no calendário, mas anote aí, essa não será uma lua cheia qualquer, você verá a maior lua cheia em 18 anos'.