quarta-feira, 23 de março de 2011

inocência (CRÔNICA)

Foi em 19/03/11 '... e então concluo que este é o tempo de reaçao humano.' Finalmente. As ultimas palavras do interminável relatório de ciências. Minha cabeça girava, mas a felicidade que eu senti em poder desligar aquele lap top que já fazia meus olhos arderem e meus dedos dormirem que tanto trabalhar naquilo, era insana. Sábado, eu viajava com meu pai e meu irmão. Muito verde, serras lindas, uma represa gigantesca, piscina, quadra de vôlei de areia, vastos campos de grama, era tudo o que eu precisava para me desconcentrar daquele relatório infeliz. Mas por milagre, eu terminei. Fechei o lap, desliguei da tomada, peguei minhas canetas, juntei as folhas em ordem, coloquei meu caderno encima do livro, e em cima do caderno coloquei o trabalho, encima do trabalho a máquina, e encima da máquina, as canetas, e encima das canetas a chave do quarto, que finalmente era segurada pelos meus antebraços apoiados, enquanto minha mão segurava a pilha toda por baixo. Subi o lob do hotel, passei o Hall, 20m reto, 15m para á direita, tirei a chave da pilha, e entrei no quarto. 5 minutos depois, saia com o meu biquíni laranja, como um foguete em direcção ao mesmo lugar de onde vim, mas passei o lob, desci uns 30 degraus largos de pedra, toda aflita por medo de pisar em algum sapo, passei as 3 piscinas, desci mais 2o degraus, passei a sauna, virei à esquerda, passei o jardineiro que colocava mais lenha na portinha de metal, desci mais 50 degraus e cheguei na mesinha de ferro onde encontrei as roupas do meu irmão e do meu pai nas cadeiras, pus meu óculos de natação e corri para o piêr. Passei um minuto mais ou menos procurando qualquer sinal japonês pela área. Até que ouvi a voz do meu irmão me chamando. Pulei na represa. E de lá, uma pequena luz surgia por trás da serra. Era a mãe universo, dando a luz da lua pela incontável vez. Branca, imensa, deslumbrantemente encantadora, que vinha descobrir esse admirável mundo estranho que era tão particular de suas irmãs. Refletindo na água e fazendo claras as bolhas que os peixes faziam ao saltar. Redondamente perfeita, e aí sim entendi por que os índios acreditam que a natureza é Deus. Como se estivesse perdendo a vergonha aos poucos, ela surgia, subia devagarinho, luminosa e radiante, e quanto mais próxima de nós ela ficava, mais se via seu sorriso, que acabou nos envolvendo, até que tão íntima, que agora era nossa companheira, e iria observar junto a nós a pesca dos ribeirinhos na outra margem. E ela se aproximava cada vez mais, e virou tão pessoal, que até suas crateras podíamos ver, como os furinhos dos queijos. Até que ela chegou a seu auge, e foi se despedindo lentamente, subindo, subindo, subindo, até ser completamente coberta pelas nuvens negras, que as sugavam como um buraco negro, e enfim, brilhar sua última luz, pela mínima fresta deixada por entre as maudosas. _______________________________________ MANCHETE NOS JORNAIS 19/03/11 'Hoje, 19 de Março, é dia de lua cheia. Basta olhar no calendário, mas anote aí, essa não será uma lua cheia qualquer, você verá a maior lua cheia em 18 anos'.

2 comentários:

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  2. Muito bom. Crônica no estilo "ecológico-simbólico", talvez um campo a ser explorado, interessante.
    Ótima ideia de associar o texto a uma manchete de jornal, pois este é o espírito da crônica.

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